Ideia
Agir ou não agir. A morte do bicho ignorada em
contraposição à celebração da vida da filha. Lei natural da Vida?
A TRÁGICA MORTE DE UM ANIMAL É IGNORADA ENQUANTO CELEBRA-SE A VIDA
Tema
Compaixão, importância da família, afetos e desafetos
familiares, morte e vida.
INDIFERENÇA/MORTE E VIDA
INDIFERENÇA/MORTE E VIDA
Storyline
1 Um cavalo em chamas luta sozinho para salvar-se.
2 Nenhum dos personagens age para modificar esta situação,
apesar do compadecer-se de Armando.
3 O imponente animal está diminuto e agonizante enquanto
todos comemoram a conquista e mais um ano de vida de Paloma.
Pedro é empresário no ramo de construção civil, negócio que
iniciou sozinho a próprio custo com um ínfimo estoque de cimento deixado por seu
falecido pai. Tem um filho, Armando, de 23 anos, apaixonado por arte desde que
nasceu, não se explica, e uma filha, Paloma, de 17 anos, muito prestativa e
seguirá os passos da Medicina, passou recentemente no vestibular, a exemplo da
mãe: Cecília, mulher bastante solidária que veio do interior à capital para
estudar e realizar o grande desejo de ser médica, não queria ser professora
como as irmãs e amigas que no interior decidiram continuar.
A família está em seu sítio num dia calmo, aproveitando o
costumeiro programa de domingo, mas hoje por uma ocasião especial.
Pedro cria alguns animais e plantas na propriedade e num
terreno anexo. Paga Labar para que o faça, o caseiro do sítio. Labar tem esposa
e 2 filhos pequenos, estes estão na “casinha do caseiro” preparando o almoço.
Labar está ateando fogo no terreno anexo para iniciar nova
semeadura. Ele, por descuido ou excesso de foco nesta tarefa, retira os
animais, mas esquece da família de cavalos, que estava reclusa ao fundo deste
terreno e há poucos dias havia tido dois potrinhos.
A Fumaça já está alta e a chama se esconde por trás dela.
Sai correndo o cavalo entre a fumaça como ser encantado e endemoniado, olhos
flamejantes, a pelagem preta cheia de luminosas marcas vermelhas e alaranjadas,
assim como sua cauda em chamas.
O filho, distraído no facebook sentado na cadeira de
balanço, ao ver a cena se assusta e logo se desespera, a irmã e a mãe estão ocupadas
e entretidas na cozinha com o som ligado “nas alturas” sem se dar conta do
ocorrido, o pai fuma um cigarro de palha e bebe cachaça, enquanto a carne de
churrasco assa, não se compadece. Diz que animal sabe resolver os problemas
sozinho, no fundo uma comparação que ele utiliza para atingir o filho, se tem
de morrer, vai morrer.
O menino em prantos tenta aproximar-se do cavalo. Este já
está em polvorosa tentando não morrer, jogando-se contra o solo arenoso.
Armando nada consegue fazer para ajudar o cavalo. A chama ora aparenta ter
cessado de queimar o corpo dele, ora eleva-se como grande fogueira. O cavalo
pula, roda enlouquecido, esfrega-se e gira na areia e na grama percorrendo o
perímetro da casa grande até que pára enterrado na areia e só vemos sua
respiração funda, pausada e agonizante.
Armando, amante da arte e da estética, vê poesia no
acontecimento e de repente sua dor transforma-se em prazer de presenciar fato
marcante e único. Ele grava este “evento” sem muita reflexão sobre o por quê o
faz.
O cavalo ainda tem forças para sair de lá, adentrar a área
de serviço, e se encolher ao lado do tanque, tão diminuto, em poucos metros
quadrados, como um homem dentro de uma mala. Armando fica parado, em êxtase
(numa briga de eros e thanatos), gravando de seu iPhone. O cavalo parece gritar
pelos olhos, ainda assim serenos, que lhe se banhe com rios de água fresca até
aquele ardor todo de sua carne viva sumir. Paz. A família do cavalo está segura
graças ao agonizante pai, o qual sobreviverá, não sem ainda queimar por horas.
Mas um potrinho não resistiu, apesar de resgatado, morreu de asfixia.
Cecília e Paloma saem da cozinha com o bolo da festa de
aniversário dos 18 anos de Paloma. O pai estava escondendo o presente, um carro
zero, na garagem. Todos estão a postos, Pedro, Labar e família, Cecília, Paloma
a postos no bolo, só falta Armando.
Cecília grita por Armando, Paloma diz que Armando está ocupado na área de
serviço e desconversa, Pedro faz cara feia.
Armado continua gravando a agonia do cavalo ao som do
“Muitas felicidades, muitos anos de vida...”
Lucas Paz
04.09.13
Lucas Paz
04.09.13
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