A verter o verbo sem verter o vinho
verte-se o capuccino sobre as teclas em desatino
vira-se o artista a verter-se poeta em seu niño ninho
a mexer consigo em seu criativo
para ativar o lado adormecido sem carinho
agressivo
escreve, maldito,
escreve
benditas palavras
a rasgar brancos caminhos
nesse ócio gostoso de ver-se sozinho
verter-se passarinho
voando parado
esperando o destino
fazendo na espera necessária ação
para novo desalinho
reinício
descontínuo
sua rotina
a falta dela.
verter-se em desequilíbrio da corda bamba que é o risco no chão
para em seu avesso descobrir-se homem, refazer-se menino
estudar seus buraquinhos, preenchê-los e refurá-los
perfurar seu próprio vício
de achar desde o início que nasceu pra passarinho.
quinta-feira, 26 de setembro de 2013
domingo, 15 de setembro de 2013
Onitientia Tarantino
O que se faz depois com tanto sangue derramado e pintando paredes, Tarantinto?
O que se faz depois? Eu te pergunto.
Que esse sangue não seja admitido, aplaudido, derramado,
que esse sangue não vire cimento, não vire dinheiro, assim erigindo impérios ao coagulado,
que esse sangue continue correndo...
em minhas veias, em tuas veias e assim, constantemente transformado... transforme.
O que se faz depois? Eu te pergunto.
Que esse sangue não seja admitido, aplaudido, derramado,
que esse sangue não vire cimento, não vire dinheiro, assim erigindo impérios ao coagulado,
que esse sangue continue correndo...
em minhas veias, em tuas veias e assim, constantemente transformado... transforme.
sábado, 7 de setembro de 2013
Fazendo acontecer
menino do sono sonhe um sonho, sonho dois sonhos,
infinitos sonhe e acorde com eles em ponto de bala
infinitos sonhe e acorde com eles em ponto de bala
quarta-feira, 4 de setembro de 2013
Hoje acordei do sonho com essa história: "Por um pouco de água"
Ideia
Agir ou não agir. A morte do bicho ignorada em
contraposição à celebração da vida da filha. Lei natural da Vida?
A TRÁGICA MORTE DE UM ANIMAL É IGNORADA ENQUANTO CELEBRA-SE A VIDA
Tema
Compaixão, importância da família, afetos e desafetos
familiares, morte e vida.
INDIFERENÇA/MORTE E VIDA
INDIFERENÇA/MORTE E VIDA
Storyline
1 Um cavalo em chamas luta sozinho para salvar-se.
2 Nenhum dos personagens age para modificar esta situação,
apesar do compadecer-se de Armando.
3 O imponente animal está diminuto e agonizante enquanto
todos comemoram a conquista e mais um ano de vida de Paloma.
Pedro é empresário no ramo de construção civil, negócio que
iniciou sozinho a próprio custo com um ínfimo estoque de cimento deixado por seu
falecido pai. Tem um filho, Armando, de 23 anos, apaixonado por arte desde que
nasceu, não se explica, e uma filha, Paloma, de 17 anos, muito prestativa e
seguirá os passos da Medicina, passou recentemente no vestibular, a exemplo da
mãe: Cecília, mulher bastante solidária que veio do interior à capital para
estudar e realizar o grande desejo de ser médica, não queria ser professora
como as irmãs e amigas que no interior decidiram continuar.
A família está em seu sítio num dia calmo, aproveitando o
costumeiro programa de domingo, mas hoje por uma ocasião especial.
Pedro cria alguns animais e plantas na propriedade e num
terreno anexo. Paga Labar para que o faça, o caseiro do sítio. Labar tem esposa
e 2 filhos pequenos, estes estão na “casinha do caseiro” preparando o almoço.
Labar está ateando fogo no terreno anexo para iniciar nova
semeadura. Ele, por descuido ou excesso de foco nesta tarefa, retira os
animais, mas esquece da família de cavalos, que estava reclusa ao fundo deste
terreno e há poucos dias havia tido dois potrinhos.
A Fumaça já está alta e a chama se esconde por trás dela.
Sai correndo o cavalo entre a fumaça como ser encantado e endemoniado, olhos
flamejantes, a pelagem preta cheia de luminosas marcas vermelhas e alaranjadas,
assim como sua cauda em chamas.
O filho, distraído no facebook sentado na cadeira de
balanço, ao ver a cena se assusta e logo se desespera, a irmã e a mãe estão ocupadas
e entretidas na cozinha com o som ligado “nas alturas” sem se dar conta do
ocorrido, o pai fuma um cigarro de palha e bebe cachaça, enquanto a carne de
churrasco assa, não se compadece. Diz que animal sabe resolver os problemas
sozinho, no fundo uma comparação que ele utiliza para atingir o filho, se tem
de morrer, vai morrer.
O menino em prantos tenta aproximar-se do cavalo. Este já
está em polvorosa tentando não morrer, jogando-se contra o solo arenoso.
Armando nada consegue fazer para ajudar o cavalo. A chama ora aparenta ter
cessado de queimar o corpo dele, ora eleva-se como grande fogueira. O cavalo
pula, roda enlouquecido, esfrega-se e gira na areia e na grama percorrendo o
perímetro da casa grande até que pára enterrado na areia e só vemos sua
respiração funda, pausada e agonizante.
Armando, amante da arte e da estética, vê poesia no
acontecimento e de repente sua dor transforma-se em prazer de presenciar fato
marcante e único. Ele grava este “evento” sem muita reflexão sobre o por quê o
faz.
O cavalo ainda tem forças para sair de lá, adentrar a área
de serviço, e se encolher ao lado do tanque, tão diminuto, em poucos metros
quadrados, como um homem dentro de uma mala. Armando fica parado, em êxtase
(numa briga de eros e thanatos), gravando de seu iPhone. O cavalo parece gritar
pelos olhos, ainda assim serenos, que lhe se banhe com rios de água fresca até
aquele ardor todo de sua carne viva sumir. Paz. A família do cavalo está segura
graças ao agonizante pai, o qual sobreviverá, não sem ainda queimar por horas.
Mas um potrinho não resistiu, apesar de resgatado, morreu de asfixia.
Cecília e Paloma saem da cozinha com o bolo da festa de
aniversário dos 18 anos de Paloma. O pai estava escondendo o presente, um carro
zero, na garagem. Todos estão a postos, Pedro, Labar e família, Cecília, Paloma
a postos no bolo, só falta Armando.
Cecília grita por Armando, Paloma diz que Armando está ocupado na área de
serviço e desconversa, Pedro faz cara feia.
Armado continua gravando a agonia do cavalo ao som do
“Muitas felicidades, muitos anos de vida...”
Lucas Paz
04.09.13
Lucas Paz
04.09.13
segunda-feira, 2 de setembro de 2013
põe o pé fora da porta de casa
O homem põe o pé fora da porta de casa. É baleado com um
único tiro, entre os dentes.
O homem era silente.
A mulher do homem apanhava.
A filha do homem apanhava.
O homem era silente (ainda).
Café da manhã: contas a pagar distribuídas, café queimando a
garganta, pão engolido às pressas, louça por lavar. E um tchau quase inaudível
passeando pelo ar, da mesa até a porta de casa.
O homem põe o pé fora da porta de casa. É baleado com um
único tiro, entre os dentes.
A mãe e a filha muito brigavam, como duas galinhas querendo
chocar o mesmo ovo. O pai comia ovos, adorava ovos. Os ovos não lhe deixavam
falar. Era como se tivesse engasgado um ovo na traquéia.
O pai batia, batia com os olhos, com o piscar dos olhos, com
os olhos que fugiam do foco.
A mulher do homem apanhava.
A filha do homem apanhava.
O homem era silente (ainda).
O homem põe o pé fora da porta de casa. É baleado com um
único tiro, entre os dentes.
Duas bocas abertas, rasgadas “in mute”, dois gritos surdos
parados no ar depois do estampido que trincou os dentes, o encéfalo e as
vértebras iniciais da coluna do homem. A bala penetrando em câmera lenta, até
livrar-se (num piscar) a 1.000km/h. Sangrado e empapado de sangue no chão, como
um galo à cabidela em preparo.
Imagine um chefe de família que não cacareja?
O homem põe o pé fora da porta de casa. É baleado com um
único tiro, entre os dentes. Contas a pagar.
Um câncer aumentando na garganta, mesmo depois do tiro,
prestes a chocar.
Lucas Paz
02.09.13
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