segunda-feira, 27 de janeiro de 2014

Teat(r)o

Penso que estou ficando velho e antiquado para meu ofício. 
Sou do tempo em que teatro se fazia com ensaio, com erro, com repetição, com longas temporadas. Em que se a peça é 8:00 da noite 1:00 da tarde já se está no teatro aquecendo, afinando-se à luz, repassando os movimentos junto à trilha, passando um geralzão, panfletando ao redor, arranjando o que quer que seja para respirar aquele mofo da cortina e a poeira impregnada de tantas babas e suores e suspiros e gargalhadas e lágrimas naquele carpete do publico ou tablado do palco. Para ir entrando em si mesmo e daí então sair para/no outro.
Não, hoje vejo meus comparsas rindo e matraqueando nos bastidores comentando não mais as novelas mas os posts, novelas da vida alheia. Bebendo antes de entrar em cena, não se olhando mais nos olhos ou não se reunindo para desejar um ao outro um feliz trajeto a ser percorrido naquela noite. Ensaio o que é ensaio? cada um vem "quando dá". Cada um cuida do seu e dá pitaco no do outro. Facebook na cochia! A que ponto chegamos?! Cadê aquele silêncio atento e de escuta que antecede o saltar da cochia? 
Não há tristeza, mera constatação, há saudade. Da época em que para ser ator fazia-se teatro, vida, extravida, extraviada no palco.
E ainda assim como é bom brincar de ser outros-nós em cima de pedaços de madeira!...

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