sexta-feira, 22 de março de 2013

Sonho breve

Me admiram as pessoas que não têm problemas em falar sobre os seus problemas.
Então fala-se de problemas e mais problemas e os problemas dos problemas e no final do mês tem-se uma conta alta a pagar por tanta sinceridade acumulada.

Bom mesmo é viver na surdina, na calada da noite, da traição impensada, jamais suspeitada da esposa que repousa a cabeça tranquila sobre seu travesseiro de penas de ganso.

Bom mesmo é a falsidade descarada dos corruptos que nos rodeiam em nossos próprios atos da meleca jogada no chão ao lixo jogado nas ruas.

Falar de problemas é criar problemas para si mesmo. Quem gostaria disso?

A melhor coisa é viver anestesiado, passar simplesmente por essa vida sem sentir dor, acovardar-se, não julgar, não opinar, não se expressar, não se colocar, branco! pálido! Não branco prestes a virar problema, prestes a virar tela, prestes a virar angústia rasgada no quadro de Picasso (ou Van Gogh, ou nas letras desferidas no papel de Pessoa).

Os problemáticos que me desculpem, eu adoro a minha tranquilidade pacata e sem cor que transita pelas ruas cinzas de São Paulo.

As lágrimas já não foram feitas para cair, lágrimas de crocodilo que não são feitas mais para chorar, senão para causar no outro um sentimento barato, breve, de culpa.

Não se quer mais ouvir perdão, paixão, emoção. Emoção somente a sua e sua só. Jamais compartilhada.

Resolvamos os problemas de matemática e teremos achado a solução da incompreensão lógica que faltava num relacionamento humano.

Quando as crianças não mais desenharem sóis, não mais desenharem casas, não mais desenharem árvores, não mais desenharem montanhas, não mais desenharem horizontes, não mais desenharem pássaros, não mais desenharem nuvens, não mais desenharem... não mais desenharem. Quando as crianças não mais desenharem aí toda a equação terá sido resolvida e os problemas do mundo acabarão na falta de imaginação, na falta de criatividade, na falta de pulsação, na falta. Na falta da falta da falta (flauta). Só falta.

Nada que se sinta e esse peito latejando por uma paixão não correspondida, por excesso de cobrança, por excesso de sentimento, por sentimento extravasado, não contido, não domado, não domesticado. Por excesso de mediocridade. As pessoas esperam mediocridade, as pessoas não estão prontas para se verem de frente se a luz não estiver apagada. De olhos fechados elas gozam sem saber com o quê, ou melhor sem saber com quem.

De olhos fechados elas criam suas mentiras, suas aventuras, suas ilusões, seus sonhos de curta duração e aprendem a não alimentar esperanças por o que quer que seja.

Melhor mesmo é se deixar abandonar numa quinta a noite sobre a pesada cama que não oferece conforto, que não oferece lamento, que simplesmente cumpre o seu papel de cama, um  apoio... físico... frágil para o peso da cabeça humana, para o peso do infarto, para o peso do peito latejando, para o peso da água salgada que escorre até não poder mais de todos os poros. O peso da rejeição, da não aceitação, da negação, da quebra de execução, do vencer os seus orgulhos a cada segundo e se permitir aos seus orgulhos a cada segundo. Da concessão, do abrir mão, da construção e desconstrução, do dizer não, do dizer sim, do abrir-se. Abra-se para mim! Sem condição.

Eu te quero sem delongas, sem desfeitas, sem disfarces, sem emendas, sem cigarros, sem fumaça.

Que o fogo seja a simples fricção de querer bem. Que nossa noite não termine num não.

Louca paixão, porque sabendo da sua condição de fim, criamos um senão, câncer que roça, que fura, e que não sossega. Um abraço vazio, um abraço distante, um abraço sem braço, sem amasso, sem tato, sem... laço nenhum que segure... nada, uma farsa, um falso problema. Uma ameaça.
Julgar-lo-ei, julgar-me-á no simples olhar, de sempre, de criticar, de atribuir sentido, da natureza humana que sempre estará.

Medíocre não vim pra ficar, busco a verdade do fazer, do agir, do saber, do sentir, do buscar, do realizar, do transformar.

Quantas vezes o meu orgulho não se refletiu justamente igual ao seu hoje a noite? Em nome de quê meu Deus? De câncer, de insegurança, de afirmação, de imposição, de cegueira. Quantas vezes... Perdão! Perdão aos meus passados, aos meus passados errados, os meus passados (ag)ora conscientes da nova ação. Perdão, mundo cão, perdão. Como fui diabo, lucifér, que não sabe direito o que quer. E agora quando sabe é vítima da própria ação, dos próprios senões que deixou desde então cravados nos seus pretéritos imperfeitos.

Ah... problemas. Problemas, problemas e mais problemas. Acumulados com juros e sem juras, divididos em parcelas cada vez maiores que não multiplicam ação, só subtraem emoção, não adicionam questão, adicionam pura e fátua... pobre... contradição.  

Nenhum comentário:

Postar um comentário