quinta-feira, 28 de março de 2013

amor com a minúsculo

voce não se apaixonou por mim.
voce se apaixonou por você em mim.
paixão tem essa estranha mania de só durar até o tempo de esquecermos.
algo tão intenso, tão injustificado, tão egoísta
que só dura o tempo de esquecermos desse exacerbamento por nós mesmos no outro.
amor, não.
amor tem uma certeza tão tenaz
no profundo das incertezas.
ele só sabe disso: que viverá incertezas, e está disposto a isso:
ao inesperado, ao acaso, à transformação, às mudanças de humor
porque, como diria uma pessoa querida,
amor é construção.
então ao decidir amar uma pessoa, de caso pensado você está se dispondo ao risco, a cada segundo.
a uma mudança brusca e a como lidar com essa mudança brusca.
não que isso não signifique conflito, discordância.
muito pelo contrário.
essa fricção de convivência que vai construir algo que está para além de nós mesmos. 
até quando? como? sob que condições estamos dispostos a nos dar, a conceder pelo outro?
isso hoje em dia parece impossível.
ainda mais para uma pessoa como eu
que se apaixona pelas coisas e pessoas de maneira tão intensa
que não está tão disposto assim a fazer concessões, em nome daquilo que acredita.
egoísmo?
a vida é breve.
cada um escolhe como passar, como pisar por essa existência.
eu tenho escolhido me apaixonar todos os dias.
amar?
seria uma bobagem eu dizer que não acredito no amor
todos buscamos isso
mas meus vínculos estão enraizados sob raízes... sob linhas finas que atravessam o Atlântico, atravessam o continente assim distantes, elas estao lá. elas existem, mas não me aprisionam, não são grilhões, são flexíveis. e eu consigo nessa dança, como ondas do mar, ir e voltar, ir e voltar nos meus amores, ter certezas minúsculas de que eles estarão lá, cada um no seu porto, criando novos portos. é o que fazemos, nós ancoramos nossos sentimentos nos outros para que eles cultivem ou não.
eu...
me agrada a ideia de ser um semeador, um lançador de sementes
de repente não de fisgar, mas de ser fisgado por muitos anzóis e dançar essa dança de anzóis, de interesses, de poderes, de quereres que vem de todos os lados, a tal dança da força externa.
sim, é uma decisão, há uma atuação, há uma atividade, sim. mas se deixar levar, neste contexto, é muito importante. pelas ondas, pelas cordas, pelo ar, pelos sons, não tanto pela vontade das pessoas, essas, egoístas, eu, egoísta, não tanto pela vontade do homem, o homem não. os sentimentos do homem, esses são difíceis de identificar.
mas curioso... eu também não quero usar muito a razão... resta apaixonar-se a cada dia pelas coisas e pessoas por mais difícil que isso seja, por mais vontade que eu tenha de jogar tudo pro ar e de mandar explodir a cada minuto o que eu não compreendo. não é essa a vontade que a gente tem? de mandar pra distante o desconhecido? impulsivamente na maioria das vezes sim. mas mesmo emocionalmente falando e racionalmente falando é tão gostoso cultivar, buscar o desconhecido. a curiosidade nos leva além, para fora de nós mesmos, das roupas já coladas no corpo, das quais já sabemos cada detalhe, onde tocam. interessante é mudar de roupa a cada dia. sim, tem as que a gente mais prefere, mais confortáveis. mas como é se por na pele do outro? amor.
28/03/2013

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